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REVISÃO APONTA POTENCIAIS TERAPÊUTICOS DA PSILOCIBINA NO TRATAMENTO DA COMPULSÃO

Um artigo australiano publicado em 28 de Outubro de 2025, no periódico científico Genomic Press, investigou os potenciais usos da psilocibina no tratamento da compulsão e do Transtorno Obsessivo Compulsivo em ratos e humanos. O artigo de revisão sistemática analisou as evidências pré-clínicas e clínicas dos efeitos da psilocibina no comportamento obsessivo-compulsivo encontradas nas pesquisas selecionadas.


Seguindo o Protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) para revisões sistemáticas, o estudo selecionou 13 pesquisas, sendo 4 delas ensaios clínicos, e as outras 9, ensaios pré-clínicos; enquanto os ensaios clínicos são realizados em voluntários humanos, os ensaios pré-clínicos (estudos anteriores à qualquer experimentação em humanos) são realizados em modelos laboratoriais ou animais. Nos estudos analisados, foram usados camundongos como modelos animais, e também um tipo de camundongo modificado geneticamente, conhecidos “como SAPAP3 knockout”, que vem se consolidando enquanto modelo animal para investigação de quadros de TOC. No caso destes, o gene SAPAP3 é deletado, levando a mudanças sinápticas cerebrais e comportamentos característicos da sintomatologia do TOC, como auto-limpeza excessiva, ansiedade, e movimentos repetitivos.


Nos ensaios em humanos, os pesquisadores puderam observar que uma única dose de psilocibina levou a uma rápida redução de sintomas obsessivo-compulsivos, mesmo entre os pacientes com diagnóstico de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e Transtorno Dismórfico Corporal. Este resultado de melhora expressiva dos sintomas em poucos dias é consistente em todos as pesquisas analisadas realizadas em humanos, mesmo nas pesquisas mais antigas: o primeiro estudo revisado, de 2006, administrou doses orais em quantidades crescentes de psilocibina em nove pacientes com TOC resistente ao tratamento, e observaram uma redução da Escala Yale-Brown (usado para medir gravidade dos sintomas do transtorno) de 23% para 100% nas horas seguintes à administração da substância. Já o estudo clínico analisado mais recente, de 2024, investigou 12 pacientes com Transtorno Dismórfico Corporal, diagnóstico relacionado ao TOC: uma dose única de 25mg de psilocibina levou à redução significativa e sustentada dos sintomas por até 12 semanas, e 4 dos pacientes tiveram remissão completa da condição. Vale a ressalva de que nenhum dos 4 estudos em humanos seguiu o modelo de padrão ouro de ensaios randomizados e controlados por duplo-cegamento.


Já nas pesquisas em roedores, enquanto a administração de psilocibina não resultou em  mudanças significativas e duradouras de comportamento em camundongos selvagens, entre os ratos SAPAP3 knockout, uma única administração produziu reduções robustas e duradouras no comportamento de autolimpeza - resultado reproduzido e observado nos laboratórios dos diferentes estudos. A revisão conclui que as evidências sugerem que a psilocibina reduz temporariamente os sintomas obsessivo-compulsivos em populações clínicas e produz efeitos anticompulsivos duradouros em modelos animais validados.


Além disso, alguns estudos pré-clínicos observaram também um aumento da densidade de espinhas dendríticas e elevação na expressão de proteínas associadas à neuroplasticidade. Assim, os autores sugerem que os estudos clínicos futuros devem incluir ensaios controlados por placebo de maior porte e incorporar uso de neuroimagem para avaliar o impacto nos circuitos frontoestriatais implicados na fisiopatologia do TOC, além de uma investigação mais aprofundada dos efeitos de psicodélicos no tratamento de distúrbios com características neurobiológicas sobrepostas, como a tricotilomania (compulsão de arrancar os próprios cabelos), a dermatilomania (transtorno de escoriação) e o transtorno de acumulação.


Segundo o Psychedelic Alpha, pelo menos duas empresas já possuem moléculas análogas à psilocibina sendo avaliadas, ambas em fase 1 dos ensaio clínico: a MLS101 da MycoMedica, e a SYNP-101, da Ceruvia. Os resultados da revisão, bem como as pesquisa que investigam o uso terapêutico de psicodélicos no tratamento de comportamentos compulsivos mais uma vez levanta também a questão do uso de análogos psicodélicos não alucinógenos (ou psicolastógenos), como a 1-metilpsilocina, e o papel da experiência psicodélica e do acompanhamento psicoterapêutico no resultado terapêutico final da intervenção com a substância - uma problemática ainda sem consenso, e uma disputa que seguiremos acompanhando por aqui.


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