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Nova espécie de fungo que produz substância parecida com LSD é identificada


Descoberta encerra mistério sobre origem do LSA encontrado nas Ipomoea

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Os efeitos psicodélicos de algumas variedades da planta da família Ipomoea já eram conhecidos pelo menos desde a década de 1950 por cientistas e psiconautas. Muito antes disso, na América pré-colonial, povos nativos da região do atual México também faziam uso ritual das sementes dessas plantas, conhecidas por eles como “Ololiuqui” (“coisa redonda”) e “Tlitlitzin” (“preto”), respectivamente, Rivea corymbosa (ou Ipomeia corymbosa) e Ipomoea violacea.


As sementes eram usadas pelos “tlamacazqui” (espécie de sacerdotes do povo asteca) com fins oraculares, para determinar doenças, e até como anestésico, misturado a outras plantas e aplicado sobre o ferimento.


Além das tradições mesoamericanas, registros históricos indicam que espécies do gênero Ipomoea também foram utilizadas na medicina tradicional indiana e asiática, especialmente por suas propriedades purgativas e antiparasitárias.Na medicina ayurvédica, por exemplo, sementes de Ipomoea nil eram empregadas como laxante e para o tratamento de distúrbios digestivos.No Brasil, encontramos a Argyreia nervosa, que embora de outra espécie, se encontra na mesma família Convolvulaceae, e compartilha propriedades psicoativas.


A identificação da Ololiuqui como Rivea corymbosa foi feita pelo etnobotânico Richard Evans Schultes ainda em 1941, durante seu doutoramento em Botânica em Harvard, quando tentava descobrir a identidade desconhecida do “teonanácatl” (“carne dos deuses”, posteriormente reconhecido como cogumelos do gênero Psilocybe) e do “ololiuqui”, sacramentos ancestrais da região de Oaxaca, no México.


Acredita-se que, assim como aconteceu com as culturas ameríndias de consumo de cogumelos mágicos, o uso ritual de ololiuqui ficou “protegido” na Sierra Mazateca, afastado do mundo ocidental, até a década de 1950.


Albert Hofmann, químico responsável pela sintetização do LSD, foi convidado por Schultes e Gordon Wasson (banqueiro responsável pelo contato com Maria Sabina, xamã que abriu a primeira cerimônia de cogumelos para pessoas brancas) a analisar o teonanacatl e o ololiuqui.


Hofmann então se tornou a primeira pessoa a isolar e sintetizar a psilocibina, e descreveu quimicamente a ergina (outro nome para LSA) nas sementes da Ipomeia em 1960.


Esta última descoberta era especialmente estranha pois Hofmann percebeu uma grande semelhança entre o LSA e o LSD: ambos são alcalóides ergotamínicos (semelhante aos derivados do fungo ergot, muito comum em plantações de trigo);eles diferem molecularmente apenas na substituição de dois átomos de hidrogênio por dois grupos etil;o LSA, entretanto, seria 100 vezes menos potente do que o LSD (Schultes, Hofmann, Ratsch, 1998). 


Enquanto o LSD havia sido semi-sintetizado em laboratório (a partir do fungo ergot), logo, sem qualquer história de uso prévio cultural, agora Hofmann descobria que a molécula fazia parte da família de enteógenos naturais.


O pai do LSD, entretanto, nunca conseguiu localizar o fungo presente na planta responsável pela produção do alcalóide.Uma pesquisa publicada em abril de 2025 no periódico Mycologia parece ter finalmente revelado este mistério micológico e botânico.

Corinne Hazel, uma estudante de microbiologia da Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos, identificou uma nova espécie do fungo Periglandula nas sementes de Ipomoea.


Ela pesquisava como as plantas dispersam os alcalóides pelo seu corpo, quando percebeu uma fina película sobre as sementes:o material foi analisado e teve seu genoma sequenciado, confirmando a descoberta de uma nova espécie.


O fungo que conseguiu se esconder por décadas de cientistas, agora se chama Periglandula clandestina.


Estes alcalóides só são produzidos naturalmente por fungos, como o encontrado nas sementes da Ipomoea e no trigo usado por Hofmann.


O Periglandula tem um potencial de produção de alcalóides em grandes quantidades, o que pode significar um valor farmacêutico promissor, uma vez que o LSD e outros alcalóides como o LSA vêm sendo pesquisados para o tratamento de:

  • enxaqueca

  • hemorragia uterina

  • demência

  • doença de Parkinson

  • e possíveis efeitos ansiolíticos.


A pesquisadora agora se dedica a:

  • encontrar maneiras de otimizar o cultivo do fungo

  • e descobrir se outras espécies da planta mantêm uma relação simbiótica com fungos produtores de alcalóides.

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