nossos estudos com a dmt
Em 2006, iniciamos nossos estudos científicos com psicodélicos, começando com a ayahuasca, uma invenção ameríndia com efeitos psicodélicos intensos. Nossos primeiros estudos utilizaram a Ressonância Magnética Funcional (fMRI) para explorar a base neural dos efeitos da Ayahuasca. Observamos que a ayahuasca aumenta seletivamente a atividade de extensas redes neurais envolvidas com visão, memória e introspecção, incluindo a Rede de Modo Padrão (DMN). Também observamos aumento da entropia de conectividade entre diferentes áreas do cérebro durante os efeitos da ayahuasca, consistente com a noção de que um espectro maior de experiências é acessível sob a influência de psicodélicos em comparação com o estado de consciência ordinário.
Em 2008, começamos nossos estudos sobre os efeitos antidepressivos da ayahuasca. Realizamos o primeiro estudo aberto com 17 pacientes com depressão resistente ao tratamento (TRD) que participaram de uma única sessão de ayahuasca em um hospital universitário. Uma diminuição significativa na severidade da depressão foi observada já 24 horas após a sessão de ayahuasca, e os sintomas permaneceram reduzidos por 21 dias. Em um estudo subsequente, conduzimos um ensaio controlado por placebo no Hospital Universitário Onofre Lopes (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN). Neste estudo, 29 pacientes com TRD foram designados para receber ou uma intervenção com ayahuasca ou um placebo. Observamos efeitos antidepressivos significativos um dia após a sessão de ayahuasca, que persistiram por pelo menos 7 dias em comparação com o placebo. Encontramos taxas de resposta de 50% no primeiro dia, 77% no segundo dia e 64% no sétimo dia após a administração de ayahuasca. Este estudo foi o primeiro ensaio clínico randomizado no mundo para testar uma substância psicodélica no tratamento da TRD.
As evidências são promissoras e igualmente importante é entender a natureza desses efeitos. Nossos estudos sugerem que a resposta terapêutica resulta da combinação de modulação de vias importantes neuroimunes, neuroendócrinas e de neuroplasticidade para regulação homeostática, bem como a fenomenologia dos efeitos agudos. Por um lado, observamos que os efeitos antidepressivos da ayahuasca estavam correlacionados com certos aspectos da experiência, como mudanças na percepção visual e auditiva durante a experiência. Além disso, observamos que os efeitos antidepressivos estavam correlacionados com marcadores de estresse como cortisol, BDNF envolvido em neuroplasticidade, e marcadores inflamatórios como proteína C-reativa.
Nos últimos anos, mudamos nosso foco da ayahuasca para DMT isolada. Em parte, essa mudança ocorre devido à maior viabilidade prática e econômica de psicodélicos de curta ação, como DMT vaporizada, que em tese facilitariam a implementação clínica de terapias usando essa molécula. Este novo programa de estudo, que chamamos de "DMT de A a Z", utiliza múltiplas abordagens que vão desde a química da DMT e seus derivados, como sua extração ou síntese, purificação e caracterização, para entender as funções biológicas da DMT, e o desenvolvimento e teste de produtos e protocolos baseados em DMT viáveis e seguros visando saúde e bem-estar.
Realizamos estudos preliminares de segurança e tolerabilidade da DMT em ensaios pré-clínicos, bem como em ensaios clínicos de fase I. Além disso, um ensaio clínico de fase II a foi conduzido em pacientes com depressão e os resultados são promissores.